Revista TriploV DE Artes, Religiões e Ciências

Direção|Maria Estela Guedes & Floriano Martins

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Número 00

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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LUÍS REIS ENTREVISTA
O TriploV cria a Revista de Artes, Religiões e Ciências

LR A criação de TriploV – Revista de Artes, Religiões e Ciências de que maneira pretende conviver com a versão já existente do TriploV?

 

MEG Pretendo livrar-me de excesso de trabalho com os outros para ficar com tempo para o meu, Luís. Já tu vieste dar uma ajuda, tomando conta do TriploG – O blog do TriploV. Uma vez que te encarregas de publicar crónicas regulares e notícias que interessam ao mundo triplóvico, fico só com a criação e ensaio, e com eles podemos criar uma revista. Seis números por ano dão uma boa maquia, ainda fico com trabalhos extraordinários que sempre aparecem e é necessário pôr em linha, fora da Revista. Vamos ver quantos anos nos aguentamos neste altruísta ofício, sem remuneração, tendo às vezes de conviver com pessoas que, em vez de mandarem os seus próprios textos, nos estressam com anedotas, falsos SOeSSSes e verdadeiros Pêppêsses, gracinhas, lindezas, tudo aquilo que fica para além da nossa capacidade de prestar atenção e por isso de dar resposta. Por tudo isto eu não te encorajo a favoreceres meios de contacto, isso é muito gratificante agora, por ser novidade e te reconfortar o coração, mas, quando a tua caixa de e-mail ficar encharcada com umas centenas ou mesmo um milhar de e-mails por dia, vais reagir deletando tudo sem ler nada, ou então vais bater com a porta sem mesmo pedir divórcio. Não somos o Messias, Luís. Se as pessoas querem interagir, não sendo criadores nem ensaístas, mandam um beijo. Um beijo é bom, incentiva e não pode considerar-se spam. Outras coisas causam depressão. Quem precisa de ajuda somos nós, vamos ver se os cibernautas entendem, enviando só o que lhes pedimos: a sua, deles, colaboração, por eles assinada, em formato .txt ou .doc e imagens, à parte, até 500 pixels de alto, em formato .jpg.

 

FM Não há conflito e sim expansão. Todo material que circula no ciberespaço permanecerá em seu lugar de origem, através do TriploV e da Agulha, como minas de visitação. Leitores seguirão tendo acesso ao índice geral das duas publicações. TriploV – Revista de Artes, Religiões e Ciências possui um caráter tanto distinto como mais abrangente e com suas particulares editoriais, de ordem estrutural e de conteúdo.

 

LR O que levou esta nova revista a lançar seu número inicial como um decalque-homenagem à edição especial Agulha 70?

 

MEG Essa é uma pergunta inquietante, Luís! Há abismos insondáveis no coração dos segredos e vice-versa. Digamos que me facilita a vida iniciar a revista com a papinha feita, pois fico com a estrutura da Agulha, que é muito simples. Ao mesmo tempo, homenageio-a, sim, porque é bonito repeti-la neste dia, mês ou ano do seu décimo aniversário, e com um número tão mágico como é o 7, se nos esquecermos do zero. A Agulha é a revista de cultura em português de maior audiência no planeta. Merece mais até do que essa homenagem, merece que a assaltem e lhe surripiem alguma substância cinzenta, e por isso o TriploV foi lá raptar o Floriano Martins. Então o nosso número 1 vai ser o número 70 dela, nada de mais original do que começarmos no meio ou mesmo no finzinho, não é verdade? Pelo princípio, qualquer um principia, mas nós somos artistas e não qualquer um.

E como já obtivemos sem esforço o nº 1, solicitemos colaboração para o número 2 e seguintes. Estamos abertos à participação de jovens, estimulamos a novidade, a extravagância, a substância, a irreverência. Não aceitaremos propostas de reprodução de valores, claro. Os trabalhos, em Arial 12, preto, simplezinho, devem vir acompanhados por foto e nota biobibliográfica do autor.

 

FM Foi inicialmente uma grata surpresa para mim a idéia da Maria Estela Guedes. É bem verdade que temos, ao longo da última década, uma bonita história de cumplicidades, tanto no plano virtual como no mundo impresso, com a publicação de livros nossos, no Brasil e em Portugal, participações em eventos etc. Praticamos uma saudável fraternidade que melhor alimentaria nossa época se fosse mais freqüente entre poetas e artistas. Este decalque-homenagem, portanto, é uma afirmação valiosa do que podemos alcançar em nome da fraternidade.

 

LR Dois já conhecidos e reconhecidos editores reúnem-se nesta nova parceria editorial. Isso significa também uma junção de dois países, duas culturas e mais a possibilidade de se criar uma mesa de encontro de toda a comunidade lingüística portuguesa. Há planos neste sentido?

 

MEG TriploV sem Brasil não é TriploV. Comecei com o Magno Urbano, engenheiro do sistema, que agora é português, mas com quem me fui habituando à fala, escrita e cultura brasileira. A nossa maior audiência está no Brasil. A maior parte dos nossos colaboradores é formada por brasileiros, brasileiros que vivem no Brasil ou fazem mestrado ou doutorado em universidades europeias e da América do Norte. Os meus livros começam a ser publicados no Brasil, isto na direta influência do casamento Agulha-TriploV e meus trabalhos na Apenas Livros e CICTSUL. Eu mesma já escrevia um português meio carioca ou curitibano, antes da discussão do Acordo Ortográfico. Já conheço bem o Floriano, ele sempre apoiou o TriploV e se moveu dentro dele como em sua casa. Não sinto que as duas culturas tenham aspectos oponíveis ou inconciliáveis. Enriquecem-se uma à outra e, na minha opinião, o muro das diferenças culturais a saltar é, sobretudo, o linguístico, apesar de falarmos a mesma língua. De resto, somos perfeitamente casáveis. Quando eu fui aceite colaboradora da Agulha o meu nome apareceu lá como Estela Guedes Martins, por isso, sem o escrever, o Floriano Martins, para nós, foi sempre o Flor Martins Guedes. O nosso trabalho é às vezes tão chato que só numa de gozo e sedução o vamos ultrapassando. É uma alegria ver tudo prontinho, no ar. Mas o que se passa nos bastidores às vezes dá dor de dentes.

Quanto à criação de uma mesa de encontro de toda a comunidade linguística portuguesa, isso é fácil, tecnicamente, desde que estejas a pensar na Internet. Temos chat, fórum e podemos instalar qualquer outro dispositivo interativo ou criar uma lista de discussão. O TriploV é um pequeno servidor, aguenta uma quantidade de coisas, impossíveis nos blogues. Questão de falar com o Magno.

Se estás a pensar em mesa presencial, o Floriano já é curador de um grande encontro internacional com essas características, a Bienal do Livro do Ceará.

 

FM Evidente que se trata de oportunidade inaceitável de ser esquecida. Há uma imensa retórica revestindo o tema, em que a chamada reforma ortográfica mais nos afasta do que aproxima. Orientar e ampliar o debate sobre a diversidade cultural dos países de língua portuguesa será uma das tônicas da TriploV – Revista de Artes, Religiões e Ciências. Assim como já estamos fazendo no Brasil, através da coleção Ponte Velha, da Escritura Editora, onde temos já autores de Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique, trataremos de sistematizar, nesta nossa parceria editorial, a presença múltipla e riquíssima da cultura – não apenas da literatura – de todos estes países. Porém a revista não se limitará a este ambiente cultural. Tratará oportunamente de temas ligados ao que propõe seu título, com a singularidade que tais temas exigem.

 

LR Como pretendem lidar com o que suponho seja uma nova configuração de pauta, nova estrutura editorial, considerando que não se vai repetir o mesmo padrão de TriploV e Agulha? Penso nisto inclusive pela abrangência insólita de reunir em uma mesma publicação as artes, as religiões e as ciências.

 

MEG Artes, religiões e ciências, tudo plural, sim. Conto com os cibernautas, claro. O TriploV tem oito anos, quase dois gigas ocupados com conteúdos – documentos html e imagens. Nunca fiz pauta, contei sempre com o acaso, raramente pedi isto ou aquilo, e a verdade é que os colaboradores, se falharam, foi por excesso e não por defeito. Já aqui deixei expresso o desejo de que colaborem quantum satis, pliz, ou lá teremos um ataque de nervos: não mandem nada anónimo, escrito pelo amigo, não mandem nada que não seja para publicar, não mandem textos que não foram revistos, porque,

 

AVISO À NAVEGAÇÃO:

não corrigimos textos depois de postos no ar.

 

Claro que o Floriano vai querer pauta, vai querer temas, vai querer pedir textos sobre o tema ao autor A, B e C. Isso é possível fazer-se com brasileiros, que são diligentes, rápidos, conhecem a Internet, sabem o que vale ser publicados no TriploV e na Agulha e até mencionam o facto nos currículos académicos. Sabem que do TriploV até podem saltar para edições em livro, ir a colóquios, tertúlias, feiras e congressos. Com portugueses, não. Os portugueses são dotados de extraordinária imaginação e senso crítico mas, em termos tecnológicos, ainda vivem na Era da Bic EsferaFina, alguns mesmo na da Bic Lascada.

 

FM É verdade, não é fácil livrar-se da lagartixa da Agulha ou do ovo do TriploV (risos). São símbolos já presentes em nosso inconsciente. Curiosamente vejo que a parceria é uma decorrência natural de nossa amizade, da afinidade que sempre tive com Maria Estela Guedes, e que o grande desafio que temos será o de criação de uma nova logomarca para TriploV – Revista de Artes, Religiões e Ciências. Quanto à configuração em si, a estrutura da revista deve seguir um roteiro de galerias (ou sessões, se querem) que respondam por esta tríplice vertente – este é nosso triplo V – que abrigará as artes, as religiões e as ciências. E o fará na forma de textos, imagens, sons, vídeos, cobrindo toda a esfera de possibilidades que a Internet nos permite. Trata-se de um projeto ambicioso que abrigará, além da própria publicação em si, todo um conjunto de ações que seguimos articulando, Maria Estela Guedes e eu.

 

LR Acaso podem ambos fazer um balanço da consistente aventura editorial que levaram a termo em Agulha e TriploV?

 

MEG A Agulha, já o disse, é neste momento a mais importante publicação electrónica em língua portuguesa. A sua importância é intrínseca, como repositório de informação e  cultura literária, e extrínseca, por isto se entendendo que a sua esfera de influência ultrapassa as fronteiras do virtual para interagir com o presencial. Claudio Willer e Floriano Martins, editores da Agulha, estabeleceram contato com inúmeros escritores brasileiros e de outros países e promoveram o contato entre eles. São embaixadores do Brasil no mundo.

O TriploV é mais novo dois anos, sempre foi mais pluridisciplinar e por isso pode parecer caótico, os meus critérios de publicação têm sido mais estratégicos do que estéticos, e para além disso é-me difícil falar de mim. De qualquer modo, os resultados e a esfera de ação de ambos é similar. O TriploV também é um veículo poderoso, em termos de audiência.

 

FM A Agulha me parece que cumpriu, em seus 10 anos de aventura editorial, o papel que motivou sua existência: o de transformar-se em uma mesa de debate dos principais temas que envolvem a cultura e as artes em nosso tempo. Quando surgimos não havia este espaço na imprensa no Brasil. Virtual ou impressa, esta área permanece ainda com enorme carência, já quase de todo naufragada nas águas do entretenimento, sem oferecer ao público um espaço de reflexão, conhecimento, multiplicidade de oportunidades, e não apenas a informação com caráter comercial. Em geral, a imprensa trata seu público como mero cliente, o que é uma lástima, e a área do chamado jornalismo cultural acabou adotando a fórmula. Agulha foi um espaço praticamente solitário, ao longo de uma década e com 70 números publicados, uma mesa farta que tem em seu acervo – sua madeira de lei – uma média de 1.800 ensaios e entrevistas, os mais diversos temas, verdadeira prática de política cultural em um país mais afeito ao fuxico cultural. E foi além da simples edição de seus números: seus editores foram convidados para eventos literários em diversos países; definiu contratos editoriais, seja na área de poesia, ensaio ou tradução; formou parcerias com grupos editoriais também em âmbito internacional; ampliou o espaço de difusão de inúmeras revistas, inclusive com um intercâmbio de edições especiais dedicadas a alguns países; e claro: agora estamos aqui, dando a este caráter cultural uma nova configuração, através da criação da TriploV – Revista de Artes, Religiões e Ciências. Evidente que a Agulha tornou-se um consistente veículo de reflexão e circulação de idéias. Sem dúvida que seus leitores se reconhecem nela.

 

[Fortaleza/Lisboa, agosto de 2009]

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