Revista TriploV DE Artes, Religiões e Ciências

Direção|Maria Estela Guedes & Floriano Martins

PÁGINA INDEX | HOME Número 01|Homenagem à Agulha. Decalque do nº 70 e último. Setembro de 2009

 

Número 01

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AGULHA, UM BALANÇO PORTUGUÊS

Maria Estela Guedes

Página ilustrada com obras da artista Aline Daka (Brasil)

 A Agulha – Revista de Cultura, cumpridos dez anos de existência, encerra as portas a mais colaboração. Foram dez anos e setenta números, o que perfaz cerca de dois mil trabalhos, maioritariamente ensaios, já que essa foi a sua estratégia editorial – publicação de ensaio sobre literatura, de preferência contemporânea, em português e em castelhano.

 Ao lado, o convite a um artista plástico, para ilustrar um escritor. Tem sido uma publicação independente, não alinhada com poderes políticos, académicos ou facções culturais. Marginal, por consequência, e apoiante da marginalidade, enquanto espaço excepcional em que gira o motor da criação.

Neste domínio, vemos privilegiados nela os artistas do front, das muitas vanguardas, desde Rimbaud a Patti Smith, desde o surrealismo à beat generation, desde a pintura até à música pop. Georges Bataille está presente, bem como Sade e Lautréamont, porque a Europa se enraíza no Novo Mundo, e este naquela, transportados pela grande massa de autores convocados ao anfiteatro da Agulha. Se quisermos, como os editores da revista, englobar todas as vanguardas em só uma, paralela à outra tendência da arte contemporânea, o formalismo, então verificamos que a Agulha se ocupou sobretudo do surrealismo.

Vamos lamentar o quê, exatamente? O desaparecimento, não. Apenas que não tenhamos número 71 e seguintes. A terminar, porque as pessoas cansam-se, e são só duas - Floriano Martins e Claudio Willer na Agulha, e uma terceira, Soares Feitosa, no site de edição, o Jornal de Poesia – é excelente que termine agora, pois a revista alcançou um lugar muitíssimo bom no ranking mundial de acessos. Consulte-se o Alexa, em linha, para prova dos noves. Sai vitoriosa, coroada com os nossos aplausos e um galardão bem merecido, o «Prêmio ABCA 2007» (Associação Brasileira de Críticos de Arte), como melhor veículo de comunicação de cultura do país. Foi igualmente um bom veículo da cultura portuguesa no ciberespaço.

Vamos ver a que assuntos e autores nossos prestou atenção.

Autores e figuras comentados: Almada Negreiros e Cruzeiro Seixas (nº 2-3); Herberto Helder (nº 9,); D. Sebastião (nº 11); Luís Miguel Nava, Mário Cesariny (nº 25); Fernando Pessoa (26; 36); Mário Botas (nº 26); Casimiro de Brito, António Ramos Rosa, Maria do Rosário Pedreira (nº 27); Herberto Helder (nº 29); poetas vários por João Barrento, e António Barahona (nº 30); Paula Rego, Maria João Cantinho (nº 32); Adolfo Casais Monteiro, Eduardo Langrouva (nº 33); Mário Viegas, Fernando Lemos e Manuel de Castro (nº 34); Ana Hatherly, Rosa Alice Branco (nº 35); Mário Cesariny, Graça Morais, Manuel António Pina, Sophia de Mello Breyner (nº 36); José Saramago, Nicolau Saião (nº 37); Herberto Helder (nº 38); David Mourão-Ferreira (nº 38); Manuel Gusmão (nº 39); Ana Marques Gastão, Paula Rego (nº 41); Manuel Fernando Gonçalves (nº 42); Al Berto, Ilda David (nº 44), António Ramos Rosa, Eugénio de Andrade, Nicolau Saião (nº 45); Armando Silva Carvalho, Maria Teresa Horta (nº 46); António Ramos Rosa (nº 47) Rosa Alice Branco, Isabel Meyrelles (nº 49); Bocage (nº 50); Cruzeiro Seixas (nº 51); Cesário Verde, José Régio (nº 52); Ernesto de Sousa, Cruzeiro Seixas (nº 53); António Ramos Rosa (nº 55); José Régio (nº 56); Nicolau Saião (nº 57); Agostinho da Silva (nº 58); Isabel Cristina Pires, Cruzeiro Seixas; vários em «Literatura portuguesa contemporânea» (nº 59); João Pedro Grabato Dias  (nº 60); D'Assumpção (nº 62); Herberto Helder (nº 62); Fernando Echevarría, Raul Proença, Florbela Espanca, Ruy Belo (nº 63); Herberto Helder (nº 62); António Lobo Antunes (nº 66); Herberto Helder, Cruzeiro Seixas (nº 67); Alberto Santos, Henrique Risques Pereira (nº 68); Herberto Helder (nº 69).

Ensaístas, alguns deles com presença regular: João Barrento, Helena Vasconcelos, Maria João Cantinho, Ruy Ventura, Rosa Alice Branco, Ana Marques Gastão, Nicolau Saião, Teresa Martins Marques, Nuno de Matos Duarte, João Garção, Augusto José Matos, Manuel Grenho Caldeira, Luís Costa, Paulo Alexandre Pereira, António Cabrita, Maria João Reynaud, Luís Estrela de Matos, Joana Ruas, Henrique Manuel Bento Fialho, Norberto do Vale Cardoso e Maria Estela Guedes, que sou eu.

Com as presenças assíduas de Herberto Helder e Cruzeiro Seixas, verificamos que, no que toca a Portugal, também o surrealismo foi mais intensamente analisado. A percentagem de matéria lusíada é considerável, atendendo não só ao peso dos efectivos do Brasil como da parte restante da América Latina. Não esquecendo que a revista se ocupou das vanguardas, portanto teve de ser universal o bastante para cobrir a Europa, os Estados Unidos e boa parte do restante mundo.

Nestes dez anos, a influência da revista no meio dos escritores vivos com acesso ao ciberespaço foi imensa, com saldo muito mais que positivo, e o prémio entretanto recebido assinala o facto com justiça. É importante a influência ao convocar os artistas para um novíssimo suporte de publicação e meio de difusão cultural, com regras próprias, e poder impressionante de impacto, traduzido nos novos contactos, além de na audiência. Nunca, pelos meios tradicionais, Floriano Martins e Claudio Willer se teriam cruzado no caminho com tantos escritores – americanos, europeus e africanos – não fora o apelo do virtual. O virtual tem essa grande virtude: apela para o presencial.

As relações presenciais são determinantes na nossa carreira, delas depende a permeabilidade ao fluxo artístico, portanto a permanência dos valores artísticos e culturais, bem como a incitação ao novo e desenvolvimento dos novos caminhos.

A Agulha prestou-me muita colaboração, em vários níveis, enviando matérias para publicação, solicitando as minhas e a minha presença em eventos importantes. O TriploV, a ela, tem aberto o horizonte do ciberespaço, prestando informações como  estas: a Agulha não acaba, nada com alguma importância acaba definitivamente na Internet.

O domínio da revista, a sua Url -  http://www.revista.agulha.nom.br/agportal.htm - vai permanecer acessível aos browsers. Quando desaparecer definitivamente, os materiais escritos, na maior parte, ficarão disponíveis no Internet Archive: http://web.archive.org/collections/web.html .

Experimente: http://web.archive.org/web/*/http://www.revista.agulha.nom.br/agportal.htm

O TriploV e eu devemos muito à Agulha, isto é, a Floriano Martins e a Claudio Willer. Livros publicados no Brasil, participação na Bienal Internacional do Livro do Ceará, por exemplo, aconteceram e espero que continuem a acontecer devido ao mútuo conhecimento e à camaradagem que se foram desenvolvendo nestes dez anos. Somos veteranos, quase pioneiros em absoluto, e pioneiros relativamente à nossa especificidade.

A colaboração não vai acabar. Em simultâneo com o último número da Agulha, publicamos o número 1 da Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências, com direcção minha e de Floriano Martins. A coadjuvar-nos, teremos Luís Reis (no TriploG), Maria José Camecelha (no TriploV) e Magno Urbano, hospedeiro e engenheiro do sistema. Não é preciso dar a morada, mas vá lá, vá lá - http://revista.triplov.com/ - e comprove se já estamos no ar.

Maria Estela Guedes (Portugal, 1947). Escritora, investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa. Dirige o TriploV [http://triplov.org]. Autora de livros como Herberto Helder, Poeta Obscuro (1979), Ofício das Trevas (2006) e Chão de papel (2009). Contacto: estela@triplov.com.

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