Ele levanta-se
coitado dele
e nós sentimos aquele arrepio inquietante
da sexta-feira ligeiramente escura
Cristãos comunistas desportistas
consumidores de alcachofras
e mesmo outros de crânio em silhueta contra
a luz da lua
no meio do frio glacial do continente
antártico
se bem me entendo financistas agentes de
câmbio
comerciantes ruidosos alunos de artes
polícias
personagens que fazem navegar os barquinhos
nos tanques dos seus
jardins da infância
Velhos capões
Notamos dizia eu ou melhor notam vocês
os que
ainda por aí têm sonhos
a sua poderosa silhueta de comedor de bagas
de zimbro
de fruta da época se a conseguia apanhar
de uma perna descarnada de montanhês
nos tempos da grande solidão feliz
O urso que outrora ia de Somner Valley a
Livington pelo meio
das gramíneas das faias das nogueiras até às
primeiras encostas
da grande montanha verde e negra
***
O meu urso
suave como um lilás
como um carvalho das Ardenas
sem saber ler sem saber escrever
O de muito perto da terceira subida nas
Rochosas
ou mesmo da quinta ou da sétima
lá onde havia entre os
abetos
seculares um pequeno
lago sonolento
e se dizia que por ali emigrantes antigos
tinham rebentado
no inverno coloquial de Wyoming evocado em
Toulouse
Aquela senhora conferencista de boa perna
dava-me volta ao miolo
Até me fazia sentir câmbrias
de Santa Fé a Colorado Springs
o meu urso meu é claro ainda que de mil
transeuntes contentinhos
Aquele que virando a cabeça erecto nos
faz recordar o Quaternário
na sua imensa estrutura de velha fera
indolente.
O Ganimedes
calmo empregado entre funcionários
engravatados
pensa que pelas ruas faria dar gritinhos às
raparigotas sem cuecas
a moda mais na moda de agora imaginem
vocês
a sua companheira ursa perdida com a barriga
ao léu
***
Ganimedes
No Zoo parisiense ele é um senhor cheio de
categoria
mau-grado o seu silêncio habitual
chegam a atirar-lhe maçãs muitos lhe
lançam
amendoins ou nozes de Agosto
e avelãs e até um maço de cigarros
amarfanhado
O meu urso
Primo do meu primo Ribonard e dum grandalhão
mais tosco que a rocha Tarpeia
taberneiro merceeiro em La Jolle onde eu ia
com o tio Lenôtre
comprar botas de caçador de perdizes
de cigarrinho mais que malcheiroso sempre ao
canto da bocarra
sempre ensopado em branco e aguardente
barata.
Ganimedes
sob o luar e os planetas libertos aguarda o
momento de estoirar. |