Casas
de ramos de palmeira,
compartimentos
desfalcados pelas chamas dos arcanjos
o centro
o deserto
é aqui que me sinto em
casa
é aqui que a minha
canção vibra nas cordas
da MULHER-FLOR
é aqui que o homem da
chuva
ilumina as fontes com
suas magníficas harpas
um quintal
ao centro maravilhosas
cisternas
que flutuam no espaço
a água que corre pelos
bicos dos pássaros
para que a chama
dourada do seu voo penetre a vida
para que as minhas 7
irmãs acordem dos sonhos distantes
das pirâmides
soterradas nos antros da imaginação
e brilhem como os
metais
e povoem de novo este
lugar
e aqui montem as suas
tendas
e ergam altares e
oráculos
e de novo
nos novos templos
os deuses encontrem a
paz desejada.
ah!
deixai-me descer aos
precipícios de mim mesmo
ao seu verde de música
sinfónica
à escuridão do seu
musgoso centro;
na chama destruidora
deixai-me olhar o
terror da realidade
sentir o doce pesar da
agonia no coração,
o seu estilete
perfurando a dureza dos músculos
a confusão das grandes
metrópoles
na carne
eu sei! eu sei!
é preciso ter-se um
coração de cristal,
um arnês no centro da
testa,
é preciso ser-se
temerário
qual o valente
guerreiro que enfrenta a morte
de cabeça ao alto
é preciso saber-se
dançar ao ritmo da corda bamba
como os nativos
ou os neófitos de
Dionísio
mas esta é a minha
vontade
soldada a ferro e fogo
na troca dos anéis sagrados
a vontade do meu amor
pela vida
a vontade de quem não
conhece o repouso
nem o descanso dos
homens fartos
serei um filho pródigo,
um Prometeu libertado
em correntes
uma bússola na mão de
um explorador desvairado
uma múmia ao canto de
uma estrada
um revoltado sempre em
revolta
que não mais voltará à
casa de onde partiu
pois que bebeu do vinho
dos mortos
a noite santa
pois que conheceu
Sísifo pela madrugada;
serei a taça que os
sacerdotes passam de mão e mão
e renegarei a minha
terra
ao canto do galo
três vezes a renegarei
porém
estará sempre presente
no meu coração
no interior da ferida
aberta
e ali escavarei um
túmulo só para ela
com um altar de finas
conchas
e em cima
um verso de letras
murmurantes
esta é uma escolha pesada
eu sei
para os homens - cifrão
um absurdo
mas é a minha escolha.
a escolha de um homem
que como fronteiras só
conhece os muros do vento
que habita o cerne da
liberdade
liberdade tomada a
peito
tornada palavra
sem concessões ou
documentos timbrados
liberdade mais alta do
que todas as torres humanas
porque monstruosa
porque pura
porque vinda da alegria
e da dor
dos grandes espaços
brancos
das tendas
–
de quem segue de terra em terra |