NÚMERO 04
Março de
2010
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O QUÍMICO E
NATURALISTA LUSO-BRASILEIRO
ALEXANDRE ANTONIO
VANDELLI
Adílio Jorge
Marques & Carlos A. L. Filgueiras |
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THE LUSO-BRAZILIAN
CHEMIST AND NATURALIST ALEXANDRE ANTONIO
VANDELLI. Alexandre Vandelli was the
heir of two illustrious scientific
traditions in the Luso-Brazilian world of
the late eighteenth and early nineteenth
centuries, that of his father, the
celebrated Italian-Portuguese naturalist and
chemist Domingos (Domenico) Vandelli, and
that of his father-in-law, that protean
figure in several scientific specialties as
well as in politics, José Bonifácio de
Andrada e Silva, who in later life was of
paramount importance in the process of
Brazilian independence from Portugal. The
younger Vandelli followed their footsteps
but soon engaged in a multiple career, at
first in Portugal and later in Brazil, of
which little is known and is here presented
for the first time. |
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Keywords: Alexandre
Vandelli; Luso-Brazilian science; XIXth
century Brazilian science. |
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Este artigo apresenta a vida
e a obra do quase desconhecido químico e
naturalista oitocentista Alexandre Antonio
Vandelli (1784-1862), português naturalizado
brasileiro que atuou nas mais diversas áreas
do saber em Portugal e no Brasil.
Tendo produzido um leque de
trabalhos importantes em diferentes campos
do conhecimento, sua obra pode parecer menor
comparada àquela da dinastia científica de
que provém. Contudo, de um ponto de vista
histórico ela possui enorme importância ao
pôr em evidência as dificuldades e
contradições presentes tanto em seu país de
origem (Portugal) como no Brasil adotivo,
num período em que ambos os países se
esforçavam para inserir a ciência moderna em
sua cultura. O esquecimento a que Alexandre
Vandelli foi relegado também se deve ao fato
de ele ter sido o herdeiro e continuador de
duas figuras de enorme importância na
história luso-brasileira.
Por um lado, Alexandre era
filho de Domingos (Domenico) Vandelli
(1735-1816), naturalista e químico trazido
de Pádua por Pombal e que teve atuação tão
destacada tanto em sua cátedra na
Universidade de Coimbra quanto na
importante Academia Real das Ciências de
Lisboa, além de várias outras atividades.
Domingos chegou a Portugal em 1764, passando
à Universidade de Coimbra em 1772 (1).
Por outro lado, Alexandre
Vandelli viria em 1819 tornar-se genro do
mais célebre discípulo de Domingos Vandelli,
José Bonifácio de Andrada e Silva
(1763-1838). Bonifácio foi renomado
cientista não só em Portugal como também em
vários países da Europa, tornando-se mais
tarde figura de proa no processo de
independência do Brasil da sua metrópole
(2).
A frondosa sombra de
antecessores tão ilustres parece ter
contribuído para obliterar o interesse pelo
segundo Vandelli. Todavia, uma apreciação de
sua vida e obra poderá contribuir para um
melhor entendimento do pensamento científico
em Portugal e no Brasil em seu período
produtivo de vida.
Alexandre Vandelli nasceu
imerso nas idéias iluministas do pai e
atravessou momentos marcantes e difíceis da
história de Portugal e do Brasil. Após
décadas de vida em Portugal, toda a família
Vandelli enfrentou problemas políticos de
enorme monta e imensas dificuldades
financeiras disso decorrentes,
principalmente a partir da segunda década do
século XIX.
O grande afluxo de estudantes
brasileiros à Universidade de Coimbra
diminuiu drasticamente a partir do início do
século XIX. Este número havia alcançado
cifras bem expressivas no século anterior,
quando 759 brasileiros lá se matricularam de
1701 a 1750, seguidos por 994 estudantes da
mesma origem no período 1751-1800. A
diminuição mencionada se deveu, sobretudo,
pela instalação de cursos superiores no
Brasil, mas também pelo maior intercâmbio
entre o Brasil e outros países, em
detrimento de Portugal (3).
Alexandre Vandelli tornou-se,
a partir de 1813, assistente de José
Bonifácio de Andrada e Silva, tanto no
Laboratório Químico da Casa da Moeda de
Lisboa quanto na Intendência Real das Minas
e Metais do Reino. Alexandre se casou em 18
de fevereiro de 1819 (Lisboa) com Carlota
Emília de Andrada, nascida a 20 de dezembro
de 1790 e filha primogênita de José
Bonifácio, reforçando assim os antigos laços
dos Andrada com a família Vandelli (4). Carlota era uma das duas
filhas legítimas de Bonifácio com Narcisa
Emília O’Leary, com quem seu pai se casara
em 1790. Uma terceira filha de José
Bonifácio, oriunda de outro relacionamento
(ainda incógnito aos historiadores) seguiu
com os Andrada para o Brasil em 1819. Ambos,
Alexandre Vandelli e Bonifácio, além de
trabalharem juntos, moravam na mesma Rua de
São Bento em Lisboa (5).
O casamento da filha foi um
dos últimos preparativos para que José
Bonifácio pudesse, enfim, realizar seu
antigo sonho: livrar-se das atividades
burocráticas em Portugal e retornar à terra
natal. Bonifácio vivia muito provavelmente
terríveis conflitos à época, como se
verifica em trecho de carta a um amigo
ignorado, datada de 30 de março de 1818:
“...como o bom Job, não tenho
amaldiçoado a hora em q. fui concebido, e
ainda mais a hora em q. fui pai! Porém ao
mesmo tempo devo confesar, q. esta família,
q. me hé tão cara, he q.m
me tem impedido de não ter já
tomado algu’a resolução heróica.
...e os meos livros e pedras
são hoje a m.ª única consolação - nunca
estudei tanto na minha vida; e talvez ainda
poderia ser feliz, se me dessem a m.º carta
de alforria. Mas para disgraça minha o
requerim.to
q. levou, e em que confiava
vejo que terá a mesma sorte, q. os outros
dois anteced.tes."
(6)
Mais adiante escreve ainda: “Já
não posso com o peso, q. carrego sobre meos
hombros; e so suspiro por entranhar-me nos
matos de S. Paulo; onde ao menos tenha
bananas carne de porco e farinha de páo à
fartura” (6).
Alexandre Vandelli e
Carlota Emília tiveram quatro filhos, dos
quais os três mais velhos nasceram em Lisboa
e a última em Santos, no Brasil. A
primogênita foi Narcisa Emília de Andrada
Vandelli, futura Viscondessa de Sepetiba por
casamento com o Visconde, Aureliano de Souza
Oliveira Coutinho, Ministro, Senador e
Conselheiro do Imperador D. Pedro II. Nasceu
em 1820 e viria a ser Dama Honorária da
Imperatriz Teresa Cristina. Em seguida, José
Bonifácio de Andrada Vandelli (1821), que se
tornou militar, radicando-se posteriormente
em Minas Gerais e finalmente no Paraná.
Feito Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Aviz
em 1861 (7).
A seguir, Feliciana
Emília de Andrada Vandelli (1822). Feliciana
foi casada com o Conselheiro do Império
Joaquim Maria Nascentes de Azambuja. A
caçula, Júlia de Andrada Vandelli, viria à
luz em 1836 na cidade de Santos e não
deixaria geração conhecida (8).
Em 1834 caía D. Miguel,
vencido nas armas por seu irmão mais velho
D. Pedro IV, o ex-Imperador brasileiro D.
Pedro I, que lutou pelos direitos dinásticos
de sua filha Maria da Glória, a futura Maria
II de Portugal. Alexandre Vandelli,
partidário de D. Miguel, decidiu então
emigrar com a família para o Brasil em
dezembro de 1833. Após algum tempo morando
em Santos, veio para a capital do Império.
Tornou-se mestre da família imperial, e
viveu no Rio de Janeiro por mais 28 anos até
o término de seus dias em 1862.
No Brasil Alexandre Vandelli
vivenciou muitas questões políticas, como a
maioridade de D. Pedro II, o liberalismo e a
forte influência inglesa na vida política e
econômica do segundo Império. O país ainda
estava em fase de construção de sua
identidade política e cultural, e encontrou
em mentes ilustradas, como as do círculo dos
Andrada (inclua-se Alexandre Vandelli) um
vetor para a implementação do pensamento
científico na elite intelectual e social. E
o maior representante era o próprio
Imperador D. Pedro II.
Dividiremos este trabalho,
para fins de melhor apresentação, em duas
fases a vida e obra de Alexandre Vandelli.
Inicialmente a fase portuguesa, período de
seu nascimento até 1833, quando vem para o
Brasil. Aqui nos ocuparemos em mostrar os
fatos importantes relacionados à sua vida e
atuação nas atividades científicas da época.
Em seguida, trataremos do período de 1834
até sua morte no Rio de Janeiro em 1862, à
qual denominaremos de fase brasileira,
marcada também por uma pluralidade de
atividades ligadas às ciências.
É importante ressaltar que a
data de sua morte tem sido divulgada até
aqui de maneira incorreta, tanto em Portugal
quanto no Brasil. Alexandre Vandelli faleceu
em 13 de agosto de 1862, tendo sido
sepultado no dia seguinte na cidade do Rio
de Janeiro, como os principais jornais da
época noticiaram (9). |
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A FASE PORTUGUESA |
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Alexandre Antonio Vandelli
nasceu em Coimbra a 27 de junho de 1784,
quando seu pai, Domingos Vandelli, ocupava o
cargo de Professor Catedrático de Química e
História Natural da Universidade de Coimbra.
Domingos permaneceu nessas funções de 1772 a
1791, quando se jubilou (10).
Alexandre era o filho mais
velho de uma família que naquela altura já
havia adquirido prestígio em Portugal.
Desenvolvendo-se nas leituras
com seu pai, expoente português da ciência
lusa iluminista, Alexandre Vandelli
aparecerá sempre ligado às ciências
naturais.
É preciso fazer aqui outra
ressalva histórica. Sua cidade natal não é
Lisboa, como muitas vezes também se informa
em várias fontes (11), e sim Coimbra, segundo
declaração do próprio Alexandre Vandelli
inscrita no livro de “Constituição,
Juramento e Admissão de Estrangeiros do
Império (1833-1859)” (12).
Este livro consta de seu
processo de naturalização no Brasil em 1838,
como foi por nós verificado.
Sua mãe, Feliciana Isabella
Bon, era de origem francesa e foi acusada em
1810 de estar ligada ao francês Geoffroy de
Saint-Hilaire, naturalista que esteve em
Portugal quando das invasões napoleônicas.
Saint-Hilaire foi para Portugal para
recolher amostras dos museus lusos, com o
intuito de levar à França tudo o que pudesse
ser de interesse ao naturalismo (13).
Tal fato será usado contra a
família Vandelli durante a Setembrizada,
movimento político ocorrido a partir de 10
de Setembro de 1810, quando várias pessoas
foram perseguidas em Portugal por suspeita
de afrancesamento (ou seja, de simpatizar e
colaborar com os invasores franceses). A
acusação foi aplicada também ao velho
Professor Domingos Vandelli, na época já com
75 anos, e que foi preso e conduzido para o
Forte de São Julião da Barra em Lisboa junto
com o filho Alexandre Vandelli. Embarcados
com destino à Ilha Terceira nos Açores, no
dia 25 de setembro chegaram a Angra e no dia
26 desembarcaram. Outros motivos da
perseguição contra Domingos Vandelli foram
sua ligação com a maçonaria portuguesa, além
de alugar um quarto de suas dependências em
Lisboa para um inquilino considerado
jacobino (14).
Em virtude de sua desventura,
a família Vandelli passou na década de 10 do
século XIX por sérios problemas financeiros.
Alexandre Vandelli logo conseguiu regressar
do exílio a Lisboa, porém o pai só retornará
após deixar os Açores em 1811 e viver em
Londres até 1815. Alexandre Vandelli
tornou-se procurador do pai durante todo
esse intervalo de tempo, sendo requerente
junto ao Regente de perdão para a pena
imposta ao seu pai (15).
É importante citar que entre
os vários argumentos que Alexandre Vandelli
utiliza para defender a memória de seu pai,
o primeiro se refere a:
“Que elle veio a Portugal
crear as duas cadeiras de Chimica
(grifo nosso), e Historia Natural, que de
novo se estabelecerão, pela Gloriosa
reformação dos Estudos, assim como o Real
Jardim Botânico d’Ajuda, e o da Universidade
de Coimbra, sendo, por isso, o primeiro, que
deu à Nação Portugueza estes importantes
conhecimentos, tam úteis às Artes, e á
Agricultura, que desde então principiarão a
progredir, e florescer."
(16)
Um ano depois de voltar para
Lisboa, Domingos Vandelli morre, deixando
ainda a família em difícil situação
financeira, como atesta carta da viúva
Feliciana Vandelli com requerimento
encaminhado ao Brasil em 11 de fevereiro de
1817.16
Em outro documento de 1819,
Feliciana Vandelli descreve que já recebia
pensão no valor da metade do ordenado do
marido como ex-Diretor do Real Museu e do
Jardim Botânico da Ajuda. Solicita, contudo,
também uma pensão ao seu filho mais moço
Francisco Vandelli, assim como para a filha
Maria Luiza, além dos serviços do finado
marido para o filho mais velho Alexandre
Vandelli.16
Após a morte de Domingos a
presença de José Bonifácio foi importante
para Alexandre Vandelli e toda a sua
família, em termos sociais e financeiros,
pelo menos até o casamento de 1819. José
Bonifácio, além de renomado naturalista, já
granjeara a reputação de defensor da Pátria
portuguesa, tendo pegado em armas durante as
invasões francesas a Portugal.
Durante a conturbada década
de 10, mais precisamente desde 11 de agosto
de 1813, Alexandre Vandelli tornou-se
Assistente de José Bonifácio no Laboratório
Químico da Casa da Moeda de Lisboa (17).
Nessa época, Bonifácio
publica a memória de metalurgia intitulada
“Sobre Minas de carvão e ferrarias de Foz do
Alge, em Portugal”. Este trabalho foi
publicado no jornal “O Patriota” do Rio de
Janeiro (1813), e também em Londres. Na
cidade londrina saiu em três números
diferentes do periódico “O Investigador
Portuguez em Inglaterra” (18).
Em 1814, José Bonifácio,
Sebastião Francisco de Mendo Trigoso, João
Croft e Bernardino Antonio Gomes publicam
nas Memórias de Matemática e Física da
Academia Real das Ciências de Lisboa suas
“Experiências Chymicas, Sobre a Quina do Rio
de Janeiro comparada com outras” (19).
Neste trabalho químico
está registrado o papel de Alexandre
Vandelli, cuja participação está descrita na
primeira página do texto:
“Este Laboratório munido
de todos os vazos e utensilios, que lhe são
proprios; tinha comtudo falta de muitos
reagentes, principalmente d’aqueles que mais
se alterão, os quaes seriamos obrigados a
preparar; a não ser a franqueza do Sr.
Alexandre Antonio Vandelli, que alem de nos
ajudar com o seu trabalho, nos forneceo os
que nos forão necessarios, e ainda outros de
que carecia o sobredito Estabelecimento."
(19).
Ainda na função de Assistente
de Bonifácio, Alexandre Vandelli trabalhou
na Intendência Geral de Minas e Metais do
Reino até 1819. Com a vinda do sogro para o
Brasil no mesmo ano, passa a ocupar
interinamente a direção da mesma
Intendência, assim como da Real Ferraria da
Foz do Alge e das Minas de Carvão de
Buarcos (20).
Em 1824 foi substituído pelo
Barão de Eschwege na Direção da Intendência
de Minas e Metais. Dois anos antes, porém,
Alexandre Vandelli assumiu a função de
Guarda-Mor dos Estabelecimentos da Academia
Real das Ciências de Lisboa, da qual já era
sócio desde 1805 (21).
Esta ligação com a Academia
se manteve mesmo depois de sua transferência
para o Brasil, quando ele passou a
sócio-correspondente até sua morte.
O Museu da Academia das
Ciências de Lisboa possui hoje, em sua seção
de paleontologia, peças e objetos devidos a
João da Silva Feijó, ao Barão Ludwig von
Eschwege e a Alexandre Antonio Vandelli,
especialmente na subseção de vertebrados
(22). A pesquisa de fósseis
ictiológicos em Portugal se iniciou de forma
realmente sistemática com Alexandre Vandelli
e Ludwig von Eschwege, sendo que o primeiro
estudou e registrou restos de cetáceos e de
peixes miocênicos, classificados com boa
aproximação, quando ainda Guarda-Mor da
Academia (23). Por esta razão, Alexandre
Vandelli é hoje considerado um dos
fundadores da paleontologia portuguesa.
Alexandre propôs, como se lê
no discurso da sessão pública da Classe de
Ciências Naturais de 19 de dezembro de 1831
(registrado no Tomo XI das “Memórias”), que
a Academia desenvolvesse um Gabinete de
máquinas voltadas para o estímulo da
indústria no país. Alexandre Vandelli
procurou também reorganizar o Museu da
Academia das Ciências, local que contava com
muitas peças. Havia na época a necessidade
de se organizar o material que a Academia
possuía. Seu próprio pai havia deixado
objetos e material escrito desde Coimbra,
assim como material coletado e enviado por
seus alunos viajantes (entre eles Alexandre
Rodrigues Ferreira em sua famosa Viagem
Filosófica à Amazônia e ao Centro-Oeste
brasileiro no período 1783-1792). Alexandre
Vandelli, de posse de parte desse e de
outros materiais, doou manuscritos do pai
para enriquecimento da Biblioteca da
Academia (24).
Anteriormente, ainda em 1812,
tornou-se membro-ajudante da Comissão de
Reforma dos Pesos e Medidas, criada com o
intuito de uniformizar o padrão de medidas
em Portugal. Dois anos mais tarde o Príncipe
Regente D. João aprovou a proposta dessa
Comissão, baseada no sistema métrico
francês, passando-se a produzir em Portugal
os novos padrões de pesos e medidas para uso
no Reino. Como era de se esperar, enquanto a
Academia das Ciências e a Universidade de
Coimbra absorveram as mudanças, este não foi
o caso da população, em especial a do
interior. Evitou-se, por exemplo, a
utilização da palavra metro, entre outros
motivos devido ao francesismo que evocava,
sendo utilizada a expressão “mão-travessa”
para a unidade fundamental. A “mão-travessa”
correspondia ao decímetro (décima parte do
metro). De igual forma, passou-se a utilizar
o litro como unidade de volume, mas
designando-o pelo antigo nome de “canada”. A
unidade de peso seria a libra, que
correspondia a um quilograma. A adoção
definitiva do sistema métrico decimal, com
suas unidades e nomenclaturas, viria a
ocorrer apenas em 1852, como prosseguimento
dos trabalhos da Comissão Central de Pesos e
Medidas (25).
Além dos trabalhos
científicos publicados tanto nas Memórias da
Academia Real das Ciências de Lisboa, e dos
manuscritos inéditos existentes no Brasil,
Alexandre Vandelli deixou cinco obras
maiores quando ainda estava em Portugal:
Resumo da Arte de Distillação (1813)(26), que foi impresso e
distribuído gratuitamente pela Junta do
Comércio (27),
do qual fazia parte como
ajudante; Zoologia Portuguesa (1817) em dois
volumes manuscritos (28), transcrevendo informações
zoológicas antigas e contemporâneas,
inclusive do naturalista brasileiro
Alexandre Rodrigues Ferreira; Ensaio sobre a
Nomenclatura Vulgar e Trivial, e Sinonímia Zoologica Portugueza (1817), manuscrito que
discorre sobre vários animais do Reino
português (29);
Apontamentos para a História
das Minas de Portugal, Colligidos pelo
Ajudante, servindo de Intendente Geral das
Minas e Metais do Reino (1824) (30), além da Collecção de
Instruções sobre a Agricultura, Artes e
Industria (1831-1832) (31).
Alexandre Vandelli
dirigiu em Lisboa uma fábrica de azulejos,
situada na região do Rato da capital
portuguesa. Chamava-se Real Fábrica de Louça
(do Rato) de Lisboa, e existiu entre os anos
de 1767 a 1835. Ela começou a funcionar
tendo como administrador Tomaz Brunetto até
1771, altura em que foi substituído por
Sebastião Inácio de Almeida. Inicialmente a
fábrica produziu peças de grande qualidade,
algumas das quais foram encomendadas pelo
próprio Marquês de Pombal. Em 1818,
Alexandre Vandelli assumiu a direção da
fábrica. Não conseguiu conduzir
tranquilamente a sua gestão sem ser
influenciado pelos problemas políticos e
financeiros do país, o que fez a fábrica
passar por sucessivas crises que culminaram
no seu encerramento em 1835 (32).
A família Vandelli tinha,
desde o pai, a tradição de trabalhar com
louças de grande qualidade. Domingos
Vandelli achava a argila da região de
Coimbra, onde viveu, de grande valia para a
cerâmica. Nesta cidade montou uma pequena
fábrica em 1784, criando um novo tipo de
faiança coimbrã, cujos produtos vieram a ser
conhecidos mais tarde por “louça de Vandel”
(ou “de Vandelli”, “de Vandelles”). Possuíam
grande finura e delicada pintura.
Em 1833 Alexandre foi acusado
de suposto apoio aos absolutistas que, no
mesmo ano, perderam a disputa pelo poder
português para D. Pedro IV, decidindo então
vir para o Brasil com a família. As
dificuldades políticas e materiais pelas
quais Alexandre Vandelli passou parecem ter
marcado, desde jovem, um estilo direto e
quase rude na relação com aqueles com quem
não concordava, como aconteceu com o Barão
de Eschwege e os alemães empregados na
Ferraria do Alge em Portugal. E também com
Francisco Freire Allemão de Cysneiros e
Frederico Leopoldo Cezar Burlamaque, anos
depois no Rio de Janeiro, quando da formação
da Sociedade Vellosiana de Ciências
Naturais. As inúmeras querelas nas quais
Vandelli se envolveu no Brasil serão bem
exemplificadas quando da questão dos
nevoeiros secos do Rio de Janeiro, o que se
discutirá mais à frente neste artigo.
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A FASE BRASILEIRA |
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Custeado por José Bonifácio
(33),
chegou Alexandre Vandelli com
toda a família à cidade de Santos em 1834,
tornando-se um pequeno negociante até
1837/38, como mostra o censo realizado em
Santos e demais localidades de São Paulo
neste último ano. Este censo é considerado
um dos melhores e mais completos realizados
na Província de São Paulo durante o século XIX
(34). Consta neste documento que
Alexandre possuía apenas um escravo, o que
denotava situação humilde frente aos
fazendeiros e produtores da época (35). Alexandre Vandelli chegou ao
Brasil em uma época ao mesmo tempo
importante, dramática e tumultuada da
história brasileira: o período regencial
(1831-1840). O país vivia entre as idéias
revolucionárias que pendiam entre um
liberalismo monárquico e outro de tendências
mais exaltadas e republicanas, em oposição a
uma terceira via dos mais ferrenhos
monarquistas. Revoltas explodiam em vários
lugares (36). A ciência ficou, por algum
tempo, parcialmente adormecida para
Vandelli.
Em 1838, porém, José
Bonifácio faleceu em Niterói, o que pode ter
influenciado de alguma forma a não
permanência de Alexandre Vandelli e da
família em Santos. Entre 1837/1838 retomara
as atividades de naturalista, sendo nomeado
pelo Presidente da Província de São Paulo,
Gavião Peixoto, Diretor de uma escola de
agricultura na capital denominada de Fazenda
Normal. Esta foi criada numa antiga fazenda
jesuíta de nome Sant’Anna na capital
paulista. A Fazenda se destinava ao ensino e
desenvolvimento das técnicas básicas na área
da botânica, química e agricultura, tendo o
modelo sido utilizado também no Jardim
Botânico do Rio de Janeiro a partir do mesmo
ano de 1838 (37).
A distância da Corte
provavelmente dificultava também o sucesso
profissional e financeiro de Vandelli, o
qual veio para o Rio de Janeiro ao final do
ano de 1838 (38),
como mostram seus registros
de naturalização no Arquivo desta cidade e
sua posterior atividade no Palácio da Quinta
da Boa Vista como Mestre da Família
Imperial (39).
Pouco depois da inauguração
do Colégio Pedro II, Alexandre Vandelli foi
encarregado em 1839 de escolher nas coleções
de Botânica e Mineralogia do Museu Nacional
um conjunto de exemplares para servir ao
curso de ciências daquele estabelecimento
(40).
Em 15 de março de 1839 é
feita a entrega (41).
Alexandre, contudo, nunca
lecionou no colégio.
Enquanto Mestre, Alexandre
Vandelli foi professor de Botânica e
Princípios de Ciências Naturais do jovem
Imperador D. Pedro II e de outros membros da
família Imperial, ininterruptamente, de 01
de dezembro de 1839 a (pelo menos) março de
1862 (40).
Ele fora nomeado inicialmente
pelo segundo tutor de D. Pedro II, o Marquês
de Itanhaém, que sucedera a José Bonifácio
nessa função em fins de 1833. A partir de
várias fontes, como documentos constantes do
Arquivo Nacional, pode-se presumir que
Vandelli tenha ao final de sua vida
ministrado aulas também às filhas de D.
Pedro II (42).
Isto seria natural,
levando-se em conta que alguns outros
membros da Sociedade Vellosiana também o
fizeram (43).
Com sua notoriedade no meio
científico e sua proximidade à família
imperial, Vandelli tornou-se Comendador da
Ordem da Rosa em 02 de dezembro de 1841 por
decreto de D. Pedro II (44).
Vandelli também atuou como
fiscal (45)
do Imperial Núcleo Hortículo
Brasiliense entre os anos de 1856 e 1859
(46).
Esta Instituição, segundo
seus estatutos, visava a incrementar e
orientar a botânica. O Núcleo foi fundado em
1849 por José Praxedes Pereira Pacheco,
ficando sob a proteção do Imperador a partir
desse mesmo ano (47).
Praxedes era pessoa polêmica,
com escritos que misturavam todos os
assuntos que podia, tais como poesia,
geografia, botânica, letras, comportamento
social etc. (48).
Alexandre Vandelli foi um dos
doze sócios efetivos fundadores da Sociedade
Vellosiana de Ciências Naturais do Rio de
Janeiro (49), criada oficialmente em 22 de
outubro de 1850 com a finalidade, segundo o
artigo 1° de seus Estatutos, de “indagar,
collegir, e estudar todos os objectos
pertencentes à História Natural do Brasil; e
juntamente averiguar, e interpretar as
palavras indigenas, com que forem
designados” (50). Alexandre Vandelli, Freire
Allemão e os demais fundadores desejavam
incentivar com tal iniciativa a pesquisa de
temas científicos nacionais (51). No início de funcionamento da
Sociedade os sócios efetivos foram
distribuídos em quatro Seções, sendo estas
consideradas permanentes: Etnografia,
Zoologia, Botânica e Geologia e Ciências
Físicas. Alexandre Vandelli ligou-se à seção
de mineralogia, sendo esta composta também
por Frederico Leopoldo Cezar Burlamaque,
Cândido Teixeira de Azeredo Coutinho e
Custódio Alves Serrão (52).
Na sessão de 08 de agosto de
1851, Freire Allemão propôs a criação de
outras quatro Comissões que enfatizavam
ainda mais a proposta de criação de uma
Sociedade científica nacional. Alexandre
Vandelli, o próprio Francisco Freire
Allemão, Frederico Leopoldo Cezar
Burlamaque e Joseph Théodore Descourtilz
deveriam compor um catálogo cronológico de
todos os autores nacionais ou estrangeiros
que, diretamente ou não, tivessem deixado
algum escrito sobre a História Natural do
Brasil, inventariando as respectivas obras
produzidas (53).
A Sociedade Vellosiana passou
por muitos problemas, com inúmeras
competições internas, ressentindo-se da
falta de participação e apoio do Imperador
D. Pedro II (assíduo frequentador de
reuniões intelectuais e científicas, nunca
prestigiando, porém, os encontros da
Sociedade Vellosiana). Entre os próprios
membros da Sociedade surgiram constantes
dissensões internas que resultaram em seu
adormecimento contínuo e gradual. Apesar de
o fim das atividades ser normalmente
apontado como o ano de 1852 (54),
os registros das Atas
manuscritas do Arquivo do Museu Nacional e
do Almanak Laemmert mencionam reuniões
esporádicas pelo menos até 1857, seguindo-se
atas até 1870. |
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Trabalhos científicos
publicados por Alexandre Vandelli |
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Nos escritos de Alexandre
Vandelli verifica-se que termos
excessivamente técnicos e científicos das
muitas áreas científicas que abrangeu são
transpostos para uma linguagem de maior
acessibilidade, o que deixa antever o
sentido utilitário e pragmático do seu
discurso científico. A ciência faz-se na
época para ser útil, tendo que chegar às
camadas de pessoas de atividades mais
técnicas, como os que trabalhavam com a
química e a agricultura. É uma ciência feita
e desenvolvida para conter aplicações,
comprovando o serviço que presta a todas as
camadas sociais e também nos negócios
correntes.
No século XIX proliferaram as
enciclopédias populares, os dicionários
metódicos, os manuais e compêndios de
sistematização, os jornais e revistas de
divulgação, os almanaques de natureza
diversa e os catecismos que transmitem as
boas novas científicas. Vandelli está,
então, inserido neste contexto com seus
trabalhos.
Alexandre Vandelli atuou nas
mais diversas áreas do saber ilustrado no
século XIX, como se comprova nos seus
trabalhos. Seus textos e preocupações
técnicas e científicas abrangem
principalmente Química, Mineralogia,
Geologia, Agricultura, Paleontologia,
Zoologia, Botânica, Meteorologia. Todavia,
sua atuação tanto no Brasil quanto em
Portugal ultrapassou estes limites, já que
participou da administração e fabricação de
louças (seguindo a tradição iniciada com seu
pai, como já dito), assim como atuou na
administração pública, na fabricação e
fundição de produtos de ferro, extração de
carvão, além da área educacional. Sua
atividade como educador pode ser
acompanhada, por exemplo, na folha de
pagamentos dos Mestres da Família Imperial
entre 1839 e 1862 (55).
Na Química, Alexandre
Vandelli produziu em Lisboa, no ano de 1813,
uma obra de 82 páginas intitulada “Resumo da
arte de Distillação” (27).
Impressa por conta da Junta
de Comércio, onde seu pai também trabalhava,
foi distribuída gratuitamente. O tema da
destilação de aguardente, problema central
no livro, era muito importante para
Portugal na época e foi objeto de muitos
trabalhos também de químicos franceses
(Vandelli cita, por exemplo, Lavoisier e
Chaptal). Alexandre também demonstra
conhecer o livro do brasileiro João Manso
Pereira, intitulado “Memória sobre a reforma
dos alambiques”, que fora publicado em
Lisboa no ano de 1797 (56).
Vandelli menciona a
necessidade da modernização em Portugal dos
alambiques, devido à mistura dos bons e maus
tipos existentes (inclusive para se evitar
danos à saúde), além da importância
econômica que tal produção exerceria na
época. Na Introdução da obra, Vandelli deixa
uma clara mensagem de seu pensamento
utilitarista para a Química:
“A arte de distillar tem
grangeado hum geral acolhimento nos paizes
industriosos, assim como pela consideração
dos Governos, como pela dos homens sábios;
(a) aquelles a tem olhado como hum
interessante ramo de commercio, e de
industria, e como productora de hum genero,
que se tem tornado de primeira
necessidade;..."
(27)
E na nota (a) de pé de página
acrescenta:
“Tudo o que pertence á Arte
da distillação (diz Chaptal Ann. de Chim. T.
69) tudo o que tende a aperfeiçoar os
processos, merece huma particular attenção
da parte das pessoas... se interessão nos
progressos das Artes..."
(27)
Fica clara a preocupação de
Alexandre em preservar a “Arte” (e os
“Artistas”, como diz na pág. 6) (57), sendo a palavra “Arte”
aqui empregada na acepção da época, ou
seja, enquanto produto do engenho humano com
interesse científico e econômico para a
sociedade. Esta foi uma marca recebida da
época de seu pai, que exerceu sempre em
todas as suas atribuições a função proposta
pelo iluminismo: aqueles que possuíam
determinado saber, como a Química, deveriam
transformar o conhecimento em técnica para
o bem da pólis. A técnica submete-se
à razão também em Portugal. Alexandre
Vandelli cita a Inglaterra várias vezes no
texto como aquela nação que recompensa os
que buscam os progressos nas Artes,
justificando assim estar aquele país à
frente de Portugal.
Vandelli buscou no texto
introduzir novamente em Portugal a discussão
de novos formatos para os alambiques, de
modo a otimizar a produção e evitar um
possível envenenamento com a formação de
acetato de cobre (58).
O artigo “Experiências
Químicas sobre a Quina do Rio de Janeiro
Comparada com Outras” foi escrito em 1811
por José Bonifácio, Sebastião Francisco de
Mendo Trigoso, João Croft e Bernardino
Antonio Gomes (19).
Vandelli participou no
preparo dos vários reagentes químicos
utilizados para verificar se a quina do Rio
de Janeiro era de boa qualidade, uma vez que
ela era produto natural de grande interesse
estratégico e militar na época (59).
Este texto se completa com
outro estudo químico publicado em 1818 nas
mesmas “Memórias da Academia” e de autoria
exclusiva de Vandelli, intitulado
“Experiências sobre duas differentes cascas
do Pará”, analisando a composição física e
química de cascas de plantas brasileiras.
Vandelli inicia seu trabalho a partir do
fato de que o Delegado do Físico-Mor do
Exército recebera 40 arrobas “de duas
differentes Cascas amargas do Pará para o
uso dos Hospitaes militares,...” (60).
A quina era importante no
tratamento contra febre intermitente,
malária, feridas e inflamações. Ela era o
principal febrífugo da época e de uso
difundido nas armas da Corte, pois não havia
muitos tratamentos específicos em ferimentos
de guerra. Assim, saber se a qualidade da
matéria prima – as cascas – que eram usadas
em Portugal e no Brasil era de boa qualidade
possuía forte interesse estratégico e
econômico.
Meia arroba de cada tipo de
casca do Pará foi enviada ao Laboratório
Químico da Casa da Moeda para análise de
Alexandre, sendo as amostras chamadas de “N.1”
e “N.2”. Vandelli analisou cor,
sabor, cheiro, fraturas, porosidade das
cascas, através de macerações e decocções
com solventes. Comparou as cascas do Pará
com a quina do Rio de Janeiro, e com a quina
amarela (de que se usavam as folhas e cascas
e era muito comum no Peru, controlado pelos
espanhóis) (61). Concluiu que a casca do Pará
“N.1” era quina verdadeira. Afirma
ele que esta quina e a do Rio de Janeiro
contêm os mesmos princípios e utilidades. Em
relação à análise química da amostra em
infusão da casca N.2, esta só altera a cola,
que ele afirma precipitar nos exames de
laboratório, mas teria também os mesmos
resultados ativos da quina fluminense.
Um artigo em Física foi
proposto por Vandelli: “Memória sobre a
gravidade específica das águas de Lisboa e
seus arredores”, publicado em 1812 nas
“Memórias Econômicas” da Academia Real das
Ciências, Tomo IV (62).
Este é um trabalho realizado
a partir do conceito físico de gravidade
específica de um sólido de latão de uma
polegada cúbica, utilizando-se água
destilada como padrão para se comparar com
as águas de várias fontes de Lisboa e
arredores: chafarizes, águas livres, bicas,
minas e poços (63). O resultado apresenta as
amostras de água separadas, discriminando a
região. Novamente surge a questão econômica,
pois nos corolários escreve:
“Como é mais proveitosa na
economia animal aquela água que pesa menos,
por ser mais pequeno o número de corpos
heterogêneos, que tem dissolvidos; por isso
se devem escolher para o uso económico as
menor gravidade específica."
(62)
E continua:
“E os Artistas, com
especialidade os tintureiros, que têm de
fazer uso das águas mais puras,
principalmente para o cozimento, e
desengomado das sedas com o sabão, e para a
desengorduragem das lãs pelos álcalis,
poderão regular-se por esse exame."
(62)
Alexandre termina seu texto
com uma tabela em ordem nominal e crescente
de gravidade específica das amostras,
apresentando a temperatura da água da
maioria delas.
Alexandre Vandelli também
deixou um grande número de manuscritos
inéditos, dos quais nos ocuparemos agora. Um
deles é intitulado “Reflexão sobre a
questão dos nevoeiros seccos da atmosfera do
Rio de Janeiro. Apresentada na Sociedade
Vellosiana, pelo Snr. Dr. Francisco Freire
Allemão. 13 de nov. de 1853. Carta a D.
Pedro II” (64). Este é um texto longo, no
qual Vandelli procura rebater as idéias de
Francisco Freire Allemão de Cysneiros e de
Frederico Leopoldo César Burlamaque a
respeito da origem dos nevoeiros secos que
costumavam cobrir o Rio de Janeiro,
principalmente entre os meses de agosto e
setembro. O Arquivo do Museu Imperial de
Petrópolis conserva este manuscrito inédito
datado de 13 de novembro de 1853. O
manuscrito foi presenteado por ele a D.
Pedro II, constando de três partes, datadas
de 16 de abril, 24 de novembro e 10 de
dezembro de 1853, respectivamente. São no
total 41 páginas manuscritas em letra
uniforme e legível, muito diferente da
grafia de Vandelli (65).
A terceira parte é intitulada
“Aditamento”, tendo sido composta após a
carta de dedicação ao Imperador.
Inicialmente, para Freire
Allemão (a partir de dois trabalhos
publicados na revista Guanabara) a névoa que
cobria a cidade do Rio de Janeiro entre
julho-agosto e outubro era principalmente
oriunda das queimadas muito comuns na época.
Burlamaque discordou de Freire Allemão em
outro texto (na mesma revista) de que a
causa fossem as queimadas, porém, não
ofereceu claramente uma solução (66).
Já Alexandre Vandelli propôs
que as névoas seriam relacionadas a
fenômenos atmosféricos e astronômicos. Ou
seja, uma explicação completamente
diferente, apesar de ainda em voga na época,
da influência cósmica na atmosfera
terrestre (67).
Este é um trabalho no
qual Alexandre Vandelli atacou, de forma
virulenta, seus dois debatedores, mostrando
as desavenças que ocorriam no seio da
Sociedade Vellosiana presidida por Freire
Allemão. Problemas pessoais que, certamente,
contribuíram para o adormecimento da
Sociedade ao longo da década de 50 do século XIX.
Em 1847 Frederico Burlamaque
também entrou em outra disputa com Alexandre
Vandelli, desta vez para o cargo de Diretor
do Museu Nacional em substituição ao frei
carmelita Custódio Alves Serrão (68).
No documento encontrado na
Biblioteca Nacional/RJ há uma carta na qual
“o Dr. Burlamaque, Alexandre Antonio
Vandelli e o Dr. Emilio Germon são os
pretendentes ao cargo”. O vencedor na
disputa foi Burlamaque, que ficou na direção
de 1847 a 1866, tendo executado reputada
administração.
Vandelli legou-nos ainda
algumas publicações mineralógicas e
geológicas importantes para a ciência
portuguesa. Como mencionado antes, sua obra
de 28 páginas intitulada “Additamentos ou
nota à Memória geognóstica ou golpe de vista
do perfil das stratificações das diferentes
rochas que compõem os terrenos desde a serra
de Cintra até a de Arrabida”, foi publicada
em 1831 nas Memórias da Academia Real das
Ciências de Lisboa. Trata-se de um extenso
trabalho que se combina com outro anterior
no mesmo tomo do Barão de Eschwege, e em que
se mostram pranchas estratigráficas das
localidades. O texto vandelliano e suas
pranchas, mostrando com detalhes os fósseis
vertebrados marinhos, é considerado o marco
inicial da paleontologia dos vertebrados em
Portugal.
No que tange a situação
mineralógica de Portugal na época de
Vandelli (início dos oitocentos), temos os
“Apontamentos para a história das minas de
Portugal, colligidos pelo ajudante, servindo
de intendente geral das minas e metaes do
Reino”, publicado em Lisboa em 1824 (69).
Este opúsculo foi o resultado
de suas experiências metalúrgicas em
Portugal, tanto na Intendência Geral de
Minas e Metais quanto na direção da Real
Ferraria da Foz de Alge desde a década de 10
do século XIX.
Vários problemas surgiram e
impediram o desenvolvimento da indústria
mineira em Portugal no período de transição
do Antigo Regime ao Liberalismo. Eram
questões de ordem política, institucional,
financeira e técnica. Através do trabalho de
José Bonifácio e Alexandre Vandelli na
Intendência Geral de Minas se pode mapear as
dificuldades daquele país na área,
facilitando o entendimento historiográfico
dos motivos que levaram Portugal a vir
pesquisar no Brasil a possibilidade de
encontrar minas produtivas. Mesmo até pouco
tempo antes da Independência brasileira em
1822.
Nos “Apontamentos para a
história das minas de Portugal” Alexandre Vandelli mostra, por exemplo, o caso das
Ferrarias da Foz do Alge e os problemas
administrativos que lá surgiram. Há o
registro das contradições e tensões do
trabalho com os alemães, contratados
supostamente para acelerar o desenvolvimento
mineralógico do país, fato que para o autor
não ocorreu. O ponto de partida para a
modernidade, e que poderia representar um
processo de liberalização política
português, defrontou-se neste caso com
problemas próprios de um país dissonante.
Alexandre Vandelli sabia que Portugal
deveria seguir para uma postura industrial,
e que a ausência de uma atividade mineira
regular preexistente eliminaria as chances
de Portugal crescer economicamente.
Alexandre Vandelli deixou
algumas obras sobre zoologia. Com um vasto
Reino natural em seu poder, a elite
intelectual lusa percebeu que deveria
conhecê-la melhor antes que outros o
fizessem. Uma das obras de Alexandre mais
importantes para a compreensão da pesquisa
naturalista até o início do século XIX
chama-se “Zoologia portugueza” (70).
Trata-se de um manuscrito de
1817, com 1.454 páginas, composto em Lisboa
como primeiro volume de uma coleção por ele
elaborada. Descreve o conteúdo de várias
dezenas de outras obras (particularmente
desde o século XVII) e de muitos autores
anteriores à sua própria geração,
ocupando-se em boa parte da descrição de
animais brasileiros. Entre os autores
citados destacamos a cópia de trabalho de
Alexandre Rodrigues Ferreira na página 156,
com longo título: “Relação - Dos animaes
quadrúpedes silvestres que habitão nas matas
de todo o continente do estado do grão Pará,
divididos em tres partes: 1ª dos que se
apresentão nas mezas por melhores: 2ª dos
que comem os Índios em geral, e alguns
Brancos quando andão em diligencias pelo
sertão: 3ª dos que se não comem” (71).
Neste trabalho e em alguns
outros do mesmo volume surgem nas margens
anotações originais de Alexandre Vandelli,
com referências a nomes científicos dos
animais citados.
O “Extracto de 88 autores
para a nomenclatura zoológica portugueza”
(72), cujo subtítulo é “Extraído de
63 autores”, foi também manuscrito e datado
de 1817, redigido em Lisboa, sendo o segundo
volume do manuscrito anterior. Neste volume
Alexandre Vandelli disserta largamente sobre
vários animais brasileiros e portugueses
(assim como na obra “Ensaio sobre a
Nomenclatura Vulgar e Trivial, e Sinonímia Zoologica Portugueza”), mostrando a
importância do conhecimento zoológico do
Reino. E como fez seu pai em seus trabalhos
e no planejamento das viagens dos
naturalistas-viajantes.
Segundo as Atas da Sociedade
Vellosiana, Alexandre Vandelli teria doado
ao mesmo tempo dois outros manuscritos
originais e inéditos, sem menção de data,
redigidos por ele sobre zoologia. O objetivo
era a constituição de um acervo para aquela
Instituição. Foram eles: “Extractos sobre a
nomenclatura Ichtyologica”, e o “Discurso
sobre a nomenclatura vulgar e trivial
portugueza, que deve ser preferida á que se
usa na traducção portugueza de Cuvier” (73).
Alexandre Vandelli mostrou-se
sempre preocupado com o legado histórico que
marcava as ciências dos países que viveu. Em
1851, no Rio de Janeiro, escreveu em 12
páginas o manuscrito “Retoques e
rectificações a alguns elogios insertos na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brazileiro”, tomos 1º e 2º (74).
Defendia ardorosamente a
memória de seu pai Domingos Vandelli,
segundo ele esquecido injustamente por
todos, apesar de tudo o que fez por
Portugal. Por outro lado, outras
personalidades seriam sempre lembradas.
Alexandre as considera de muito menor vulto
para a história e as ciências
luso-brasileiras. O resultado da
discrepância de tratamento, para Alexandre,
estaria nos aduladores do poder que
preferiam enaltecer os alunos (que
inscreveram seu nome na história graças
principalmente a seu pai) aos verdadeiros
mestres estrangeiros. Em algumas partes do
texto ele também defende o mestre italiano
de Física de Coimbra, o naturalista
estrangeirado Dalla Bela, que veio da Itália
com seu pai quando da reforma pombalina do
século XVIII.
Alguns dos nomes mencionados
no texto são os de José da Silva Lisboa
(Visconde de Cairú), Balthasar da Silva
Lisboa, Martinho de Mello e Castro (Ministro
de Estado), Alexandre Rodrigues Ferreira
(75).
Em outro texto histórico de
Alexandre Vandelli, intitulado “Refutação
da Memória: Onde aprenderam e quem foram os
artistas que fizeram levantar os templos dos
jesuítas em Missões, etc. inserta na revista
do IHGB” (78),
Alexandre irá refutar a
proposição histórica do trabalho do
Desembargador Silva Pontes publicado em 1842
na Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (76).
Silva Pontes afirmara terem
sido os jesuítas os responsáveis por levar
para o Japão não apenas a civilidade, mas
também a imprensa, pela qual se estamparam
os livros de instrução religiosa e moral.
Alexandre Vandelli discordou, discorrendo
que os japoneses e orientais já eram
suficientemente organizados há muito mais
tempo que a história européia queria crer,
possuindo a técnica da impressão antes mesmo
de lá chegarem os jesuítas e de Gutemberg.
Segundo ele, a cultura japonesa em especial
mostrara que não dependeu da inserção
ocidental para desenvolver-se na escrita.
Alexandre Vandelli percebia
que a educação no Brasil, em especial a
educação técnica, não seguia adiante como se
faz necessário em uma nação que necessitava
(como acontecia com Portugal quando lá
estava) crescer e produzir, competindo assim
com as nações “industriosas” da
França e da Inglaterra. Redige, por isso, o
texto “Ingênuos
reparos e reflexões sobre o
projecto de um estabelecimento agrícola,
formulado pelo gymnasio brasileiro”, escrito
no Rio de Janeiro em 1850 (77).
Trata-se de um manuscrito de
19 páginas, no qual ele expõe extensamente
suas criticas à forma com que a educação
agrícola, tão importante a qualquer país em
sua opinião, estava sendo proposta pelo
Ginásio Brasileiro. Além da sua experiência
anterior na direção da Escola Normal de São
Paulo, mais uma vez Vandelli mostra a
influência de sua formação com seu pai e
José Bonifácio, denotando seu espírito
fisiocrata e um utilitarismo. A construção
do prédio agrícola estaria sendo muito mal
gerida e se tornaria inoperante, gerando
altos custos para a administração pública e
sem conseguir a eficácia técnica desejada.
Dentro do mesmo espírito,
Alexandre Vandelli publicara em Lisboa entre
os anos de 1831-1832, através da Typographia
da Academia Real das Ciências, uma coletânea
de opiniões a respeito da produção técnica e
científica em Portugal das primeiras décadas
do século XIX. A obra chamou-se “Collecção
de Instruções sobre a agricultura, artes e
industria”. Neste texto Vandelli mostra o
que seria o caminho para o desenvolvimento
mais rápido de Portugal através da razão
aplicada às artes em geral, à agricultura e
à indústria. O texto foi compilado a partir
de trabalhos da própria Academia de
Ciências, da qual ele era Guarda-Mor na
época, além de outros que lá chegavam de
Academias internacionais. |
|
CONCLUSÃO |
|
Alexandre Antonio Vandelli
atuou nas mais diversas áreas do saber no
século XIX, sendo sua atuação em Portugal
marcada por importantes feitos, tais como o
Gabinete de máquinas da Academia das
Ciências de Lisboa e o início sistemático da
Paleontologia dos vertebrados.
A mineração portuguesa
deve-lhe as inúmeras tentativas de continuar
o projeto iluminista de José Bonifácio de um
Portugal independente nesse setor econômico,
sendo uma de suas principais características
o nacionalismo científico. Alexandre e o
sogro tinham plena consciência de que o país
teria que entrar definitivamente na proposta
liberal inglesa da revolução industrial.
Para isso, todas as áreas em que a família
Vandelli atuou foram importantes. As obras e
as várias cartas depositadas na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro deixam entrever a
opinião vandelliana de que Portugal não
necessitava dos serviços e da
intelectualidade de estrangeiros que nada
traziam ao país. Seu maior foco de ataque
foram os alemães, estrangeiros comumente
importados pela administração da Intendência
das Minas visando impulsionar e prosperar as
várias minas que Portugal possuía.
Com a independência e os
vários movimentos que constituíram a
história da nação brasileira, o Rio de
Janeiro através de sua capitalidade passou
a ser o local de atuação deste químico e
proeminente naturalista. Foi um dos mestres
que ajudaram a despertar no jovem Imperador
D. Pedro II o reconhecido gosto pelas
ciências, prazer que sempre acompanharia o
monarca pelo resto de sua vida.
Através da Sociedade
Vellosiana de Ciências Naturais do Rio de
Janeiro nosso personagem participou da
importante tentativa de estabelecer um grupo
científico de cunho estritamente brasileiro.
Travou com Francisco Freire Allemão de
Cysneiros e Frederico Leopoldo Cesar
Burlamaque a mais interessante das
discussões que lá surgiram (quanto aos
nevoeiros secos da cidade do Rio de
Janeiro).
O químico e naturalista
Alexandre Antonio Vandelli traz consigo a
tentativa de sobrevivência de uma concepção
iluminista e fisiocrata de nação e de
cidadania. Tentou manter acesa, até sua
morte, a herança intelectual da família e da
mente portuguesa, em que a razão deveria
perpassar todos os ramos do viver e do
saber. Para ele, acreditar no
aperfeiçoamento racional dos homens,
sobretudo em novos países, como o Brasil,
era essencial para se atingir a
concretização do progresso e do
desenvolvimento. |
|
AGRADECIMENTOS |
Ao Prof. Manuel Carlos
Serrano Pinto da Universidade de Aveiro pela
obtenção de referências conservadas em
Portugal. |
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REFERÊNCIAS E NOTAS
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|
1. Ferraz, M.
H. M.; Quim. Nova 1995, 18, 500.
2. Filgueiras, C. A. L.; Quim. Nova 1986, 9,
263.
3. Barreto, A.; Filgueiras, C. A. L.; Quim.
Nova 2007, 30, 1780.
4. Torre do Tombo, Livro XI dos Matrimônios
da Paróquia de Santa Isabel Rainha de
Portugal, fls. 193, apud Fonseca, G.; A
Revolução Francesa e a Vida de José
Bonifácio – uma Interpretação Incômoda,
EDART: São Paulo, 1968, p. 212.
5. Ref. 4, p. 213: mais particularmente no
n° 291 desta rua, local no qual morou até
vir para o Brasil em 1819. Alexandre
Vandelli residia no n° 123.
6. Biblioteca Nacional/RJ, Setor de
Manuscritos, cota nº I-4, 33, 71.
7. Arquivo Nacional. Cf. pasta de Ordens
Honorificas - Ordem de Aviz, cx. 798, pac.
5, doc, com data de 17-06-1861.
8. Dados retirados do processo de
naturalização de Alexandre Antonio Vandelli,
localizado no Arquivo da Cidade do Rio de
Janeiro, códice 43-1-78, pág. 9 (frente), e
que são completados com o Juramento de
naturalização constante no mesmo Arquivo sob
o códice 18-1-61, pág. 11 (verso).
9. Biblioteca Nacional, Setor de Obras
Gerais. Cf. microfilmes: PRC-SPR01 – Jornal
do Commercio, 14 de agosto de 1862, ano 37,
anúncio na página 3. Informa que o cortejo
fúnebre saiu da Rua do Engenho Velho, n° 47.
PR-SPR 04, Diário do Rio de Janeiro – Folha
Política, Llitterária, Commercial, edição de
16 e 17 de agosto de 1862, ano XIII, n° 225,
1ª página (obituário). PR-SPR01, Correio
Mercantil, edição de 18 de agosto de 1862,
ano XIX, página 2 (obituário). Alexandre
Vandelli morreu viúvo, aos 78 anos, de
gastro-entero-colite.
10. Em 1772 Domingos Vandelli havia sido
feito doutor em Filosofia e Medicina na
Universidade de Coimbra. Além de
Catedrático, tornou-se responsável também
pela criação e direção do Jardim Botânico da
Universidade.
11. As referências mais citadas e
importantes que atribuem erradamente Lisboa
como cidade natal de Alexandre Vandelli são:
Sacramento Blake, A. V. A.; Diccionario
Bibliographico Brazileiro, 1893, vol. 2,
Imprensa Nacional: Rio de Janeiro; e
Innocencio Silva, I. F.; Diccionario
Bibliographico Portuguez, 1908, Imprensa
Nacional: Lisboa, vol. II.
12. Declaração do próprio Alexandre Antonio
Vandelli: ref. 8, códice n° 18-1-61, pág. 11
(verso). Quanto a sua origem coimbrã também
é possível confirmar a mesma informação no
Livro de Matrimônios de seu casamento com a
filha de José Bonifácio (ref. 4).
13. http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/vandelli/meg.html,
acessada em Julho 2007.
14. Sequeira, G. M.; Depois do Terramoto.
Subsídios para a História dos bairros
ocidentais de Lisboa, Academia das Ciências
de Lisboa: Lisboa, 1967, II, 93-96.
15. Cf. cartas depositadas na Biblioteca
Nacional/RJ, Setor de Manuscritos:
C-0722,011, números 001 e 002, e C-81,42.
16. Carta de Feliciana Isabel Vandelli,
Biblioteca Nacional/RJ, Setor de
Manuscritos: C-0047, 016, e II-2,11,16.
17. Carvalho, J. S.; A Ferraria da Foz de
Alge – Período de Alexandre António Vandelli
(1819-1824), Estudos, Notas e Trabalhos do
Serviço de Fomento Mineiro, Lisboa, 1954, IX,
fasc. 1-4, p. 47.
18. Andrada e Silva, J. B.; Sobre Minas de
carvão e ferrarias de Foz do Alge em
Portugal, em Cerqueira Falcão, E.; Obras
científicas, políticas e sociais de José
Bonifácio de Andrada e Silva, Ed. Revista
dos Tribunais: São Paulo, 1965, I, 109-130.
Este trabalho de José Bonifácio foi composto
em 1809 e publicado mais tarde tanto no
periódico “O Patriota”, do Rio de Janeiro,
como em “O Investigador Portuguez” de
Londres. O químico e naturalista
luso-brasileiro Alexandre Antonio Vandelli
2499 Vol. 32, No. 9 .
19. Andrada e Silva, J. B.; Mendo Trigoso,
S. F.; Croft, J.; Gomes, B. A.; Memórias de
Mathematica e Physica da Academia Real das
Sciencias de Lisboa, 1814, III, parte II,
96. Inserto em Cerqueira Falcão, E.; Obras
científicas, políticas e sociais de José
Bonifácio de Andrada e Silva, Ed. Revista
dos Tribunais: São Paulo, 1965, III, 403.
20. Ref. 18, p. 48.
21. No “Processo Alexandre António Vandelli”,
Fundos Documentais – Série Azul, Biblioteca
da Academia das Ciências de Lisboa, há um
resumo histórico de sua passagem pela
Academia: nomeado sócio correspondente em 06
de fevereiro de 1805; sócio livre em 08 de
Abril de 1817; sócio substituto (de efetivo)
em 26 de novembro de 1818; passando a sócio
efetivo de 1ª classe de Ciências Naturais em
07 de abril de 1824. É possível acompanhar
essa evolução também pelas atas da
secretaria da Academia, que eram transcritas
nos vários volumes das “Memórias” e
“Memórias Econômicas”. Nesta pesquisa foram
usados os volumes do Setor de Obras Raras da
Biblioteca Nacional/RJ: cota n° 97, 4,
01-15.
22. Antunes, M. T. Em História e
desenvolvimento da ciência em Portugal;
Antunes, M. T., org.; Publicação do II
Centenário da Academia das Ciências de
LIsboa, 1986, vol. II, p. 773-814.
23. Cf. História e Memórias da Academia Real
das Sciencias de Lisboa, 1827, X, parte II,
p. XXXVI, lê-se na “Lista dos Donativos” de
1830: “O Guarda-Mor dos Estabelecimentos. –
Recolheu para o Museu varios Petrificados
dos arredores de Lisboa, e alguns fosseis
que trouxe da Villa das Caldas da Rainha.”
24. Por exemplo, nas Memórias da Academia
das Sciencias de Lisboa, 1819, VI, lê-se na
p. XXI: “Também o Sr. Alexandre António
Vandelli enriqueceu nosso Arquivo,
consentindo que tirássemos uma cópia da
correspondência epistolar dos Srs. Conde de
Barbacena, Abade Correa com seu defunto pai
e consocio Sr. Domingos Vandelli. São estas
Cartas documentos preciosos para a história
dos princípios da nossa Academia.”
25. http://www.instituto-camoes.pt/cvc/ciencia/e36.html,
acessada em Outubro 2009.
26. Vandelli, A. A.; Resumo da Arte da
Distillação, Officina de Simão Thaddeo
Ferreira: Lisboa, 1813.
27. Segundo Francisco Santana, na Introdução
à sua obra Documentos do Cartório da Junta
do Comércio Respeitantes a Lisboa, Câmara
Municipal de Lisboa, 1976, a Junta foi
criada em 1755 (antes do terremoto que
destruiu a cidade) e extinta em 1834 dentro
da reestruturação da economia portuguesa,
que organizava, entre outras funções, o
comércio de material químico de Portugal e
dos territórios ultramarinos.
28. Vandelli, A. A.; Zoologia portugueza.
Manuscritos, Lisboa, 1817. Depositados na
Biblioteca Nacional/RJ, Setor de
Manuscritos, cota n° 03, 1, 009-010/011.
29. Vandelli, A. A.; Ensaio sobre a
Nomenclatura Vulgar e Trivial, e Sinonímia
Zoologica Portugueza, manuscrito depositado
na Biblioteca da Academia das Ciências de
Lisboa, 1817. Cota: Manuscritos da Série
Azul n° 345.
30. Vandelli, A. A.; Apontamentos para a
história das minas de Portugal, colligidos
pelo ajudante, servindo de intendente geral
das minas e metaes do Reino, 1ª parte.
Lisboa, 1824. Localizado na Biblioteca da
Academia das Ciências de Lisboa, s/n.
31. Vandelli, A. A.; Collecção de Instruções
sobre a Agricultura, Artes e Industria,
Typographia da Academia Real das Ciências:
Lisboa, 1831- 1832. Encontrado na Biblioteca
Pública Municipal do Porto, n° U-2-65, Col.
BPMP.
32. Sandão, A.; Faiança Portuguesa - Séculos
XVIII-XIX, Companhia Editora do Minho:
Barcelos, 1983.
33. Testamento de José Bonifácio, s.d.,
fac-símile do Setor de Manuscritos da
Biblioteca Nacional/RJ: cota nº I – 4, 34,
063, n° 002.
34. Microfilme nº 07.04.176, Maços da
população de Santos (1817 a 1846), Arquivo
Público de São Paulo.
35. Maestri, M.; O Escravismo no Brasil,
Atual Editora: São Paulo, 1994, p. 61-62.
36. Morel, M.; O Período das Regências
(1831-1840), Jorge Zahar Editor: Rio de
Janeiro, 2003.
37. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/doc1_15.htm,
acessada em Outubro 2009.
38. Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro,
códice nº 43-1-78, pág. 9 (frente).
39. Arquivo Nacional: Casa Real e Imperial,
Mordomia-Mor, cod. 0O, cx 10, pac 2, doc B.
40. Manuscrito do Arquivo do Museu Nacional/RJ:
Aviso mandando Alexandre Antonio Vandelli ao
Museu Nacional para a separação de plantas e
minerais que se possam dispensar para o
Colégio de Pedro II. De 14 de janeiro de
1839. Cota nº BR MN.DR.CO, AO.256.
41. Manuscrito do Arquivo do Museu Nacional:
Aviso ordenando o recolhimento ao
vice-reitor do Colégio de Pedro II dos
produtos naturais emprestados do Museu
Nacional. Datado de 15 de março de 1839.
Cota nº BR MN MN.DR.CO, AO.258.
42. Filgueiras, C. A. L.; Quim. Nova 2004,
27, 349.
43. Assim como, por exemplo, Francisco
Freire Allemão de Cysneiros ministrando a
disciplina de Retórica, e Guilherme S. de
Capanema ensinando Mineralogia e Geologia.
44. Arquivo Nacional. Livro de Condecorações
do Cruzeiro, de Pedro I e da Rosa, códice
14, vol. II, 00141.
45. Juntamente com o botânico Francisco
Freire Allemão de Cysneiros.
46. http://www.crl.edu/content/almanak2.htm,
acessada em Outubro 2009.
47. Estatutos da Sociedade Nucleo Hortículo
Brasiliense, Typographia de Francisco de
Paula Brito: Rio de Janeiro, 1849. Podem ser
consultados no Setor de Obras Raras da
Biblioteca Nacional/RJ sob o n° 70, 4, 53.
48. Seu método particular de ensino,
aplicado no Imperial Núcleo Hortículo
Brasiliense, ficou conhecido à época por “praxedismo”.
Além dos estatutos mencionados, pode-se
verificar a diversidade de assuntos tratados
no Núcleo de botânica apenas pelos títulos
de algumas suas obras: Brasilismo; Breves
Noções para se Estudar com Método a
Geografia do Brasil; O Ensino de Praxedes; O
Ensino Praxedes para bem Facilitar a
Instrução. http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=14643,
acessada em Outubro 2009.
49. O nome da Sociedade, sugerido por
Francisco Freire Allemão de Cysneiros, foi
uma homenagem a Frei José Mariano da
Conceição Vellozo, nascido na Província de
Minas Gerais em 1742, e falecido em 1811 no
Rio de Janeiro. Foi o autor da importante
obra naturalista brasileira “Flora
Fluminensis”, que expõe o resultado de suas
investigações científicas realizadas na
Província do Rio de Janeiro durante oito
anos. Segundo José Honório Rodrigues em
livro publicado pelo Arquivo Nacional em
1961, Flora Fluminensis de Frei José Mariano
da Conceição Vellozo – Documentos, cf.
páginas 03-09, verificamos que Frei Vellozo
terminou o extenso levantamento da flora da
região do atual Estado do Rio de Janeiro em
1790. Apenas em 1825, porém, viria a ser
publicado parte do seu extenso trabalho.
50. Alexandre Vandelli chegou a exercer a
Presidência ad hoc, assinando o diploma de
Francisco Freire Allemão de Cysneiros (cf.
Biblioteca Nacional/RJ, microfilme
MS-548(2), ou diploma n° I – 28, 05, 062). A
primeira diretoria da Sociedade, eleita por
unanimidade, foi composta por: Presidente,
Francisco Freire Allemão; Secretário
Interino, Guilherme Schüch de Capanema;
Tesoureiro-Arquivista, Emílio Joaquim da
Silva Maia; Paiva, M. P.; Associativismo
Científico no Brasil Imperial: A Sociedade
Vellosiana do Rio de Janeiro, Thesaurus:
Brasília, 2005, p. 28.
51. Estatutos da Sociedade Vellosiana do Rio
de Janeiro: manuscritos no Arquivo do Museu
Nacional n° BR MN.DR pasta 3 doc. 157.
52. Bibliotheca Guanabarense - Sociedade
Vellosiana de Ciências Naturais do Rio de
Janeiro. Microfilme nº: PR –SOR 19 (3),
Biblioteca Nacional/RJ, Setor de Obras
Raras.
53. Ref. 50 b, p. 28.
54. Ref. 50 b, p. 28-30.
55. Arquivo Nacional: Documentos da Casa
Imperial, Mordomia Mor, entre os anos de
1839 e 1862.
56. Pereira, J. M.; Memoria Sobre a Reforma
dos Alambiques ou de Hum Proprio para a
Distillação das Aguas Ardentes, Oficina de
J. P. Correa da Silva: Lisboa, 1797.
57. Ref. 26.
58. Ref. 26, p. 3, 4 e 16.
59. Filgueiras, C. A. L., Quim. Nova 1993,
16, 155.
60. Vandelli, A. A.; Historia e Memorias da
Academia Real das Sciencias de Lisboa, V,
1818, p. 427.
61. A preocupação com as quinas vem de muito
tempo na economia portuguesa, e o próprio
pai legou para Alexandre Vandelli parte
desta preocupação. Um exemplo está em uma
carta de Thomé Rodrigues Sobral para
Domingos Vandelli. Thomé cita frase de Lineu
(carta de Lineu, de 12 de fevereiro de 1775,
em latim): “Santo Deus, se os portugueses
conhecessem as riquezas que a natureza lhes
deu, como seriam infelizes tantos
outros...”. Em Amorim da Costa, A.M.;
Primórdios da Ciência Química em Portugal,
Biblioteca Breve, Ministério da Educação:
Lisboa, 1984, 92, 86.
62. Vandelli, A. A.; Memórias Económicas da
Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1812.
Edição do Banco de Portugal: Lisboa, 1991,
61-65.
63. A gravidade específica é a relação entre
a massa da substância e a massa de igual
volume de água (aqui, dependeu da fonte da
água), a uma temperatura padrão. Esta medida
é um legado da Antigüidade, porém é muito
prática. Representa-se pelo símbolo dtt,
onde o expoente é a temperatura da
substância e o índice a temperatura padrão
da substância de referência. A gravidade
específica = densidade da amostra /
densidade da água destilada.
64. Vandelli, A. A.; Reflexão sobre a
Questão dos Nevoeiros Seccos da Atmosfera do
Rio de Janeiro. Apresentada na Sociedade
Vellosiana, pelo Snr. Dr. Francisco Freire
Allemão. 13 de nov. de 1853. Carta a D.
Pedro II, MS, Arquivo do Museu Imperial de
Petrópolis, n° MS MI M. 126-Doc. 6263.
65. Filgueiras, C. A. L.; Anais do 9º
Seminário Nacional de História da Ciência e
da Tecnologia / 2º Congresso Luso-Brasileiro
de História da Ciência e da Técnica, Rio de
Janeiro, Brasil, 2003.
66. Ref. 50-b, p. 61.
67. Documento do Museu Imperial: MI M.119 -
Doc. 5893, 1ª parte.
68. Verificamos na Biblioteca Nacional/RJ,
pasta C-0108, 018 nº. 003, o manuscrito
Requerimento de F.L.C. Burlamaque para
Diretor do Museu Nacional, datado de
08/05/1847. Costa carta anexa sob o nº.
C-60, 4.
69. Vandelli, A. A.; Apontamentos para a
história das minas de Portugal, colligidos
pelo ajudante, servindo de intendente geral
das minas e metaes do Reino. 1ª parte.
Academia das Ciências de Lisboa: Lisboa,
1824.
70. Vandelli, A. A.; Zoologia Portuguesa,
Biblioteca Nacional/RJ, nº. 03,1,009-010.
71. Foi um dos muitos alunos brasileiros de
seu pai.
72. Vandelli, A. A.; Extracto de 88 Autores
para a Nomenclatura Zoológica Portugueza,
manuscrito da Biblioteca Nacional/RJ, nº
03,1,009-011.
73. Bibliotheca Guanabarense - Sociedade
Vellosiana de Ciências Naturais do Rio de
Janeiro – Microfilme PR –SOR 19 (3) da
Biblioteca Nacional. Estes dois últimos
trabalhos não estão localizados até o
momento. Provavelmente se perderam, como
também menciona: Mello Leitão, C.; A
Biologia no Brasil, Companhia Editora
Nacional: São Paulo, 1937, 236.
74. Vandelli, A. A.; Retoques e
rectificações a alguns elogios insertos na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brazileiro, manuscrito, Biblioteca Nacional/RJ
sob o nº. I-48,7,19. Consta na contracapa do
original a pequena frase “Coll. Imperatriz
Leopoldina”. Anexa encontra-se carta em
frente e verso de Alexandre Antonio Vandelli,
datada de 04 de abril de 1859 e em letra
praticamente ilegível. Documento encontrado
no Gabinete Imperial de S. Cristóvão e
levado para a Biblioteca Nacional/RJ.
75. Todos também ex-alunos de Domingos
Vandelli, com exceção de Martinho de Mello e
Castro.
76. Silva Pontes, R. S.; Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
1842, 4, 13, 65-80.
77. Vandelli, A. A.; Ingênuos Reparos e
Reflexões sobre o Projecto de um
Estabelecimento Agrícola, Formulado pelo
Gymnasio Brasileiro. Biblioteca Nacional/RJ,
Setor de Manuscritos, sob o nº. I-32,13,4.
78. Vandelli, A. A.; Refutação da Memória:
Onde aprederam e quem foram os artistas que
fizeram levantar os templos dos jesuítas em
Missões, etc. inserta na revista do IHGB.
Impresso, Biblioteca Nacional/RJ, setor de
Manuscritos, sob o nº I-31,25,018. |
Quim. Nova,
Vol. 32, No. 9, 2492-2500, 2009 |
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Adílio Jorge
Marques & Carlos A. L. Filgueiras
Instituto de Química, Universidade
Federal do Rio de Janeiro,
CP 68563, 21945-970 Rio de Janeiro –
RJ, Brasil |
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